A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp) é o terceiro maior entreposto de frutas, legumes, verduras, flores e pescados no mundo. Mudou o modelo de administração dos desperdícios de produtos e criou o Banco CEAGESP de Alimentos (BCA), que tem como objetivo principal o combate às perdas dentro do Entreposto Terminal São Paulo (ETSP), que hoje gira em torno de 1% e mostra tendência de crescimento. O projeto BCA busca soluções que possam ser replicadas em outras empresas, no intuito de reduzir o desperdício de comida por meio da distribuição daquilo que seria jogado no lixo e que ainda pode ser consumido para pessoas em situação de fome e vulnerabilidade social.

CEAGESP

Jae Young é coordenador de sustentabilidade da CEAGESP

O Brasil está entre os 10 países que mais perdem e desperdiçam alimentos no mundo, com 41 mil toneladas jogadas no lixo por ano, de acordo com uma pesquisa realizada em 2015 pelo World Resources Institute (WRI) Brasil, uma instituição de pesquisa internacional. A maior perda – 45% – acontece no setor de frutas, legumes e verduras. Os motivos são vários: vão desde o uso ineficaz da energia, a mão de obra desqualificada, o desperdício da água e o uso de produtos químicos envolvidos na sua produção e descarte, conforme relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

Desde que o BCA foi criado, em 2003, o programa beneficiou mais de 215 entidades que atendem asilos, creches, menores abandonados, orfanatos e moradores de rua, tendo distribuído 22 mil toneladas. Por mês, são beneficiadas cerca de 300 mil pessoas na Grande São Paulo, com a entrega de frutas, legumes e verduras doadas pelos atacadistas que operam dentro da Ceagesp e em suas imediações. Os alimentos encaminhados não apresentam condição de comercialização, mas ainda têm excelente condição para o consumo humano.

O Banco Ceagesp de Alimentos vem incorporando algumas tecnologias para ampliar a vida dos alimentos descartados, como a desidratação de frutas, obtendo assim um aumento na capacidade de estocá-los para garantir que as entidades atendidas sempre possam contar com esse trabalho contra a fome.

Em 2016, a CEAGESP decidiu mudar a lógica dos descartes gerados, com o intuito de aumentar a arrecadação de alimentos doados e crescer a malha de distribuição. O sucesso do Banco Ceagesp de Alimentos é conquistado a cada dia, ao conseguir transformar o que seria lixo em alimentos para milhares de pessoas. É uma busca constante de educação contra o desperdício e a fome. Entre os inúmeros descartes, o alimento em condições de consumo humano era o que mais preocupava a empresa.

A entrada de novos gestores, ainda no início de 2016, trouxe para o BCA um novo conceito administrativo, nos moldes dos bancos de investimento. Implantou-se uma cultura voltada para uma captação mais eficiente, reorganização das áreas de contatos, estruturação da área operacional e foco nos produtos estruturados, envolvendo tecnologia de nutrição com o processo de desidratação e adubo orgânico.

DOAÇÕES PARA O BANCO DE ALIMENTOS PERÍODO DE 2003 A 2015

PADRÃO DE ATENDIMENTO

O Banco CEAGESP de Alimentos (BCA) tem como principal objetivo receber, selecionar e distribuir diariamente excedentes da comercialização atacadista, em geral oriundos de produtores e comerciantes locais. Esses produtos, por razões variadas, estão fora do padrão para a comercialização, mas adequados ao consumo humano. O BCA tem como visão ser referência no setor e distribuir o maior número de doações para as entidades do estado de São Paulo.

O público-alvo do banco são as entidades públicas e privadas, além de associações que operem atendendo gratuitamente em todas as circunstâncias, com alimentos ou refeição, a pessoas em situação de insegurança alimentar, tais como: creches, casas de recuperação, orfanatos, asilos e entidades assistenciais em geral, outros bancos de alimentos e várias prefeituras do estado de São Paulo. Atualmente são atendidas mais de 215 entidades cadastradas e ativas.

O BCA assegura aos atacadistas e doadores parceiros – em torno de 200 empresas comerciais e 96 vendedores ambulantes ao redor do projeto – a capacidade de receber o volume que for possível e lhe dar destino. O crescimento das operações ocorre conforme a demanda exigida, e constantemente se administram formas para assegurar o recebimento de alimentos in natura nos mais diversos tipos de embalagens e volumes e dar conta de processá-los, classificando-os e descartando o que não for apropriado para o consumo, além de buscar soluções para transformar esse descarte em um novo produto.

Internamente, 20 colaboradores estão envolvidos diariamente com o projeto, trabalhando diretamente com as doações. Externamente, 215 entidades são beneficiadas e também participam diretamente na captação das doações.

 

COMPARATIVO CRESCIMENTO DO PIB BRASILEIRO

AÇÕES E RESULTADOS

Entre 2003 e 2016 o BCA alcançou 22 mil toneladas em arrecadações de alimentos que beneficiaram milhares de pessoas, atendidas pelas entidades sociais cadastradas. Foram arrecadadas em média 150 toneladas por mês de produtos que seriam desperdiçados, conseguindo aproveitar e doar 90% desse volume recebido. A captação dos alimentos torna possível beneficiar em média 300 mil pessoas/mês.

As ações de arrecadação e doação vêm acompanhadas de outras atividades que estão sendo estruturadas, como a solução tecnológica para a reutilização dos descartes para fins de compostagem de resíduos orgânicos e produção de sabão a partir dos descartes de alimentos.

Entre as tecnologias introduzidas no projeto, o BCA recebeu a doação de uma máquina desidratadora, cuja produção é usada para demonstrar que é possível prolongar a durabilidade do extrato concentrado do alimento como ingrediente de enriquecimento nutritivo para a produção de sopas e outros fins nutricionais e ações de educação alimentar.

Há ainda o trabalho de criação de uma cozinha experimental, planejada para servir como espaço para a implantação de um programa de alimentação e destinada ao ensino, ensaio e experimentação de atividades relacionadas a questões alimentares, nutricionais, gastronômicas, de boas práticas de fabricação, saúde pública, entre outras.

SURGIMENTO

O conceito dos bancos de alimentos nasceu na cidade norte-americana de Phoenix, no Arizona; uma ideia concebida por John Van Hengel, que em 1967 fundou o primeiro deles denominado St. Mary’s Food Bank. Com apoio e incentivos governamentais, esse banco rapidamente teve seu ideal espalhado pelos Estados Unidos e Europa.

De um modo geral, todos os bancos de alimentos dos países desenvolvidos funcionam da mesma maneira, com base nos princípios da dádiva e da partilha, na gratuidade das contribuições, na luta contra o desperdício de produtos alimentares e na sua repartição entre pessoas mais necessitadas.

PREMIAÇÃO

O esforço do Banco Ceagesp de Alimentos foi reconhecido com duas premiações muito importantes: o troféu Bronze na competição realizada pela WUWM 2016 (sigla em inglês para União Mundial dos Mercados Atacadistas), na Polônia, que teve como tema “Eficiência na redução da perda e desperdício de alimentos no mercado”.

Outro prêmio foi ter recebido o Selo Benchmarking: Legítimos em Sustentabilidade 2016, um dos mais respeitados na área do país. O projeto Reduzindo o Desperdício conquistou o segundo lugar na premiação entre 300 inscritos no programa, vindos de diversos estados brasileiros.

Idealizado pela Coordenadoria de Sustentabilidade (CODSU) da companhia, o projeto Reduzindo o Desperdício consiste em aproveitar os alimentos fora do padrão de comercialização, mas adequado para o consumo humano, e distribuí-los a entidades assistenciais no intuito de ajudar no preparo das refeições diárias de seus atendidos. Essa iniciativa também se estende a ações de ajuda humanitária, como aos refugiados sírios que residem na capital paulista e às vítimas de tragédias, como enchentes e incêndios.

O prêmio foi dividido em seis categorias e contemplou universidades, escolas profissionalizantes, artistas plásticos e instituições representativas que apresentaram modelos práticos e bem-sucedidos de gestão ambiental. Neste ano, a iniciativa contou com uma modalidade âncora (Benchmarking Senior), destinada ao público corporativo, e cinco modalidades paralelas (Benchmarking Junior, Benchmarking Indicadores, Benchmarking Artes, Benchmarking Pessoas, e Hackathon MAIS), destinadas ao público jovem, artistas e personalidades ativistas.

O equilíbrio nas pontuações dadas aos cases entre as temáticas apresentadas demonstrou a seriedade dos trabalhos de todas as organizações participantes. A Itaipu Binacional, detentora da primeira colocação na principal premiação, com um projeto de conservação da biodiversidade, ficou apenas 0,09 ponto à frente do case apresentado pela CEAGESP – 8,32 contra 8,23 respectivamente.