CASES & CAUSOS
Décio Clemente
Atua na área de marketing há mais de 30 anos e é colunista da rádio Jovem Pan de São Paulo.
Cada vez que eu preciso falar pelo telefone com algum banco, com alguma operadora de celular ou com alguma TV por assinatura eu fico suando frio, tremendo e achando que vou enfartar.
Outro dia o sinal da minha TV a cabo, para variar, saiu do ar e o jogo do meu time ia começar. Fiquei desesperado, mas aí eu pensei: calma… vou ligar e falar com uma simples gravação porque a operadora de TV acha que eu sou imbecil e que não vou perceber, mas é apenas uma gravação. Então, vou ligar para essa grande e superorganizada empresa porque todos os seus clientes também fazem isso como admiradores dessa tecnologia – menos eu. Eles fazem isso justamente para que pessoas como eu – completamente analfabetas tecnologicamente falando – pensem que é uma pessoa que está lá e não um computador. Por isso, pensei, eu não posso ficar nervoso por causa desse detalhe – eu é que sou ultrapassado.
Respirei fundo, peguei o telefone e liguei bem calmamente, mesmo porque meu time estava jogando. Liguei. Uma voz eletrônica do outro lado me atendeu e falou: “Olá, obrigado por sua ligação, ela é muito importante para nós; um momento que já vou te identificar”. Começou um barulho de teclas de computador – em seguida ela voltou. “Beleza, já vi que você é nosso assinante” – pensei, não sua imbecil, não sou seu assinante, sou um idiota querendo conversar, mas me contive e aí veio a voz de novo: “Beleza” – pensei… beleza? Que intimidade é essa comigo? Não é possível, sou eu que estou ficando velho e avesso a essa tecnologia…
Mas vou me controlar, e a voz continuou: “muito bem, vou tentar te ajudar”. Eu pensei, finalmente. Segue a mensagem eletrônica: “Se você quer comprar o Brasileirão, tecle um” – comecei a tremer –, “se você quer comprar um filme, tecle dois” – comecei a suar frio –, “se você quer comprar o Big Brother, tecle três” – quase chorei –, “se você está com sua fatura atrasada, tecle quatro” – pensei, acho que esqueci de pagar, por isso desligaram o sinal – e finalmente: “se você tem um problema técnico, tecle cinco”. Finalmente. Apertei o cinco com tanto capricho para não errar – e ela de novo: “Beleza, se você estiver perto de seu aparelho, vá até a tomada, desligue-o e aguarde 30 segundos e ligue novamente”.
Nessa hora, como um verdadeiro imbecil, larguei o telefone, ajoelhei, abaixei perto da TV e tirei meu neto da frente. Tirei dois vasos do armário, alguns livros velhos, alcancei a tomada, desliguei e liguei novamente. Voltei ao telefone, falei alô, como se aquela voz idiota fosse me escutar, e nada. Pensei, acho que não aguardei os trinta segundos, acho que aguardei só vinte, comecei a gritar alto no telefone, apertei a tecla cinco mais umas dez vezes, e a voz não voltava. Só então percebi que a ligação tinha caído. Procurei me acalmar, ouvi fogos na rua – será que meu time marcou gol ou tomou um?
Tentei não ficar nervoso, liguei e lá veio essa vaca eletrônica novamente: Olá… obrigado por sua ligação, ela é muito importante para nós”. Dessa vez, não aguentei, mandei um palavrão – meu neto de três anos, que estava por ali, quase quebrando um dos vasos que tirei do armário, se assustou e começou a chorar. Minha mulher apareceu na sala e me xingou, falou que eu sou um neurótico e saiu de lá com o menino. Somente depois de meia hora é que consegui falar com uma pessoa real, que resolveu o problema em 20 minutos. Ou seja, perdi o primeiro tempo do jogo e a metade do segundo.
Mas outro dia eu vi uma pesquisa na TV com a informação de que 80% das pessoas detestam ser atendidas por gravações pelo telefone. Eu, que achava ser o único, fiquei aliviado. Cancelei a assinatura, e depois de dois dias uma mulher de verdade me ligou, em nome dessa operadora de TV, me perguntando por que eu cancelei a assinatura. Respondi: “olá, você está falando com uma gravação, tire a tomada de seu telefone e aguarde trinta segundos… Realmente estou ficando louco.