Agritech resolve problema do abortamento de florada com solução de aluguel de colmeias
Por Cintia Salomão
A quantidade de flores produzidas nas diferentes culturas é de grande relevância para a safra. Afinal, são as flores que dão origem aos frutos e aos grãos. Enquanto algumas espécies fecundam por meio da autopolinização, outras precisam do trabalho incansável das abelhas. É o caso do café e da soja. No entanto, a perda de florada em ambos os casos costuma ser alta.
Embora ainda não seja usada pela maioria dos produtores rurais, a polinização assistida aumenta não só a quantidade como a qualidade dos frutos. Essa é a proposta da startup Agrobee para os agricultores brasileiros desde 2019. Classificada como agritech, a empresa foi uma das dez empresas selecionadas pelo Facebook e pela aceleradora Baita, sediada na Unicamp, para o Campo Digital, programa de aceleração de startups promovido anualmente pela rede social.
DESAFIO
A perda de florada costuma representar um desafio para os agricultores, pois o chamado “abortamento” interfere diretamente na produtividade rural. A autopolinização ainda predomina entre as principais culturas do agronegócio brasileiro, como o café e a soja, sem falar no tomate e no morango. Atualmente, no Brasil, poucos empregam a cultura da polinização assistida.
“A cultura do café é a mais desafiadora, pois é onde o produtor rural não vê a polinização como uma necessidade, já que a planta se autopoliniza. O mesmo acontece com a soja. Por isso, esse é o grande desafio do nosso negócio”, explica Andresa Berretta, sócia e diretora de marketing da AgroBee.
ESTRATÉGIA
A agritech propôs uma solução para o agronegócio brasileiro ao empregar as abelhas na polinização assistida, melhorando o cruzamento genético. A proposta da startup nascida em Ribeirão Preto (SP) passa pela criação de uma nova cultura de trabalho, que consiste em implantar a cultura da polinização. Na cafeicultura, em especial, a perda de florada é muito grande por conta da semelhança genética – o que gera uma grande quantidade de abortamentos.
A abelha visita muitas flores e carrega em seu corpo o pólen dessas flores. Ao empregá-las, promovemos uma melhoria genética, fazendo com que esse fruto seja maior”
Andresa Berretta, sócia e diretora de marketing da AgroBee
O diferencial desse serviço de polinização cruzada está no melhoramento genético proporcionado pelas abelhas, o que aumenta a produtividade e a própria qualidade do grão de café. O serviço é tornado possível por meio do aluguel de colmeias.
“Quanto melhor a mistura genética, melhor será a fecundação, diminuindo o índice de abortamento. Obtemos isso porque a abelha visita muitas flores. Por isso, a produtividade aumenta. Trata-se de um benefício do serviço ecossistêmico”, esclarece Andresa Berretta.
As abelhas executam a polinização cruzada no momento em que a produção tem as flores abertas. O trabalho é pontual e age em um momento específico da vida da planta: o momento da fecundação. Nos cultivos do café e da soja, essa fecundação acontece na própria flor. Porém, a quantidade de abortamento nessas flores é muito alto.
Quando são introduzidas as abelhas corretas, em quantidades adequadas, naquela cultura e em posições estratégicas, incrementa-se a qualidade da fecundação.
“A abelha visita muitas flores e carrega em seu corpo o pólen dessas flores. Ao empregá-las, promovemos uma melhoria genética, fazendo com que esse fruto seja maior. E aumentamos o chamado ‘pegamento‘ da planta”, concluiu a sócia da agritech, que atende atualmente 45 clientes, concentrados na Região Sudeste.
O serviço de polinização assistida inteligente já é aplicado em diversas culturas, além do café e da soja. Produtores de girassol, canola, abacate, morango, laranja e caju já empregam o método em seus cultivos.
Na Fazenda São Paulo, localizada em Patrocínio (MG), que tem parceria com a Nespresso, por exemplo, houve um aumento de produtividade de cerca de 20%, além de mais 3 pontos na pontuação da qualidade da bebida.
Para facilitar o relacionamento entre apicultores e agricultores, a startup criou um aplicativo por meio do qual os produtores contratam o serviço de polinização. O valor do serviço é cobrado por hectare. Mais de 70% do valor pago é direcionado aos apicultores. A Agrobee fica com 30% do total – daí o apelido que a empresa ganhou de “Uber das abelhas”.
RESULTADOS
– Os cafeicultores aumentaram em 17% a produtividade;
– A cultura da soja incrementou em cerca de 20% sua produtividade;
– Nas culturas de girassol, foram obtidos 40% a mais de sementes;
– Na cultura do abacate, a produtividade aumentou em 60%;
– Nas plantações de morango, houve uma redução de 77% de frutas com deformação;
– A polinização assistida promove a sustentabilidade econômica, ambiental e social, pois aumenta a renda com o criador de abelhas e não gera danos ao meio ambiente, sem necessidade de um maior uso de água ou de fertilizantes.