Uma das maiores integradoras de soluções de TI do Brasil, a Montreal desenvolve uma startup de monitoramento full time dos sinais vitais do paciente crônico e compartilhamento online das informações com médicos e hospitais. A solução é baseada na tecnologia wearable – em inglês, vestível, em que máquina e homem estão conectados –, e conta com um hub multimídia com medidores clínicos, pulseiras, TV, smartphones, tablets, entre outros devices (aparelhos). O software, denominado mCare, se justifica pela crescente demanda por prevenção da saúde em decorrência do prolongamento da expectativa de vida do brasileiro e da valorização do bem-estar em nossa sociedade. Após onze meses de testes, o sistema está prestes a ser homologado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, finalmente, comercializado no formato B2B (entre empresas).
Concepção do projeto
Em 2015 o conselho administrativo da Montreal definiu que criaria uma startup. A proposta era investir em uma ideia arrojada, marcando o posicionamento renovador da empresa. O departamento de inovação foi acionado, o projeto que tinha maior aceitação internamente foi alvo de pesquisas de mercado, cujos resultados apontavam para um hiato em saúde e prevenção: a falta de monitoramento constante, especialmente de pacientes com doenças crônicas.

O conceito de cuidado das pessoas com o objetivo de otimizar os tratamentos médicos, evitar ou reduzir as internações norteou o desenvolvimento de um novo sistema na Montreal. O software deveria mensurar automaticamente os indicadores clínicos do usuário e enviar os resultados aos médicos, profissionais e hospitais indicados pelo paciente ou sua família.
Era necessário, no entanto, que os equipamentos para a coleta e transmissão dos dados tivessem a tecnologia wearable, que controla o indivíduo monitorando-o e, de modo proativo, toma uma ação em seu benefício. Os produtos, no entanto, não eram encontrados no mercado nacional. A Montreal contratou uma fabricante do Taiwan para produzi-los, a Taidoc.
Vencidos os desafios de produção e homologação dos equipamentos e de enfrentamento da burocracia brasileira, a Montreal conseguiu autorização para testar no mercado a mCare, denominação da startup e também da plataforma. Em maio de 2017, as primeiras experiências do produto eram lançadas.
Como funciona
A mCare é uma plataforma de telemedicina com mensuração efetiva e contínua dos principais parâmetros vitais humanos – temperatura, pressão arterial, peso corporal, taxas de glicose e de oxigênio no sangue – e identificação de possíveis alterações. O resultado do monitoramento é enviado automaticamente para o smartphone, tablet ou qualquer outro device do paciente ou de seu acompanhante. Em seguida, os dados seguem para o portal mCare onde são consolidados em gráficos e, na sequência, compartilhados com a equipe de saúde responsável.
Médicos e demais profissionais recebem as informações por e-mails. Em caso de oscilações atípicas, são alertados por mensagens de SMS e chamadas de voz, questionando se desejam outra aferição, por exemplo. Os especialistas orientam os pacientes, ou acompanhantes, sobre o melhor procedimento e, se for o caso, providenciam internação. Uma das formas possíveis de comunicação entre o médico e o enfermo (ou o responsável pelo mesmo) é a teleconferência.
O sistema possibilita pequenas customizações, como o acompanhamento contínuo e efetivo de uma taxa específica que seja mais crítica para aquele doente. O dispositivo fica conectado ao usuário com uma medição periódica predefinida. A mCare é também uma solução útil para pacientes sob regime de home care, isto é, uma espécie de internação domiciliar.
Plataforma hi-tech
Um hub multimídia integra canais como o aplicativo mCare (disponível nos sistemas iOS, Android e Windows), smartphones, tablets, computadores, pulseiras eletrônicas, aparelhos de TV, portal na internet e os dispositivos de sinais vitais (termômetro, oxímetro, medidor de pressão arterial, glicosímetro e balança). Para a transmissão dos dados, a tecnologia é bluetooth. Todo o histórico do usuário fica armazenado na nuvem, em um ambiente desenvolvido pela própria Montreal, o MI Box.
A mCare torna o tratamento mais eficaz tanto para o paciente quanto para o médico. O monitoramento faz com que as chances de melhora do quadro sejam bem maiores devido à agilidade no diagnóstico e no socorro. A vigilância constante, a credibilidade dos dados aferidos e a agilidade em todo o processo reduzem muito a probabilidade de erro médico.
“A Montreal dedicou-se a desenvolver uma tecnologia capaz de dinamizar o atendimento médico e dar mais segurança aos portadores de doenças crônicas ou mesmo pacientes em home care. Nestes casos, o tempo entre um problema clínico, a transmissão das informações e o contato com o médico é ainda mais vital e decisivo”, destaca Adriano Carpinetti, gerente de Inovações da Montreal.
Produto de inovação: resultado
Ao longo do ano passado, a Montreal investiu R$ 402 mil na startup, e a previsão para este ano é de R$ 608 mil. A sua plataforma é um projeto de longo prazo, uma forma de posicionar a marca Montreal como pioneira e inovadora. “O mCare é o primeiro grande produto de inovação da empresa, e inovar é o mais importante para nós”, garante Carpinetti.
O planejamento da implantação da plataforma mCare prevê dez fases. A primeira, de testes no mercado, está chegando ao fim. Foram onze meses de monitoramento full time de 924 pessoas de diferentes perfis no Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belo Horizonte e Belém. A startup fechou parcerias com uma casa de repouso, uma academia e uma clínica geriátrica para acompanhar seu público. Além desses parceiros, participaram dos testes alguns usuários da própria Montreal e internautas que baixaram o aplicativo gratuito, disponível para os sistemas iOS, Android e Windows (neste, o monitoramento é manual, não automático).

Próximos passos
Por ainda estar testando o sistema, a startup ainda não tem faturamento. A expectativa, no entanto, é de que Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conceda a homologação do negócio até o fim de maio, o que na prática representa a autorização do órgão para que o sistema seja comercializado. Com o modelo de negócios B2B, a mCare já tem tudo preparado para o início das vendas do serviço. O preço a ser cobrado por cada vida monitorada será de R$ 32, além dos custos com os equipamentos utilizados. A venda de medidores e demais produtos está descartada.
A última fase do calendário da mCare , prevista para o fim de 2019, é de instalação do sistema em hospitais para diagnosticar precocemente a sepse – também conhecida como septicemia ou infecção generalizada –, e colaborar com o aumento das chances de cura. Segundo o Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas), o quadro de sepse mata uma pessoa no Brasil a cada 2 minutos (ou 250 mil pessoas por ano). A instituição aponta que processos mais rígidos de detecção precoce, podem reduzir em até 57% a possibilidade de evolução da sepse e ainda provocar uma queda de 18% no custo total do atendimento, o que equivale a uma economia de R$ 8 milhões por ano.
O negócio Montreal: soluções e números
Com 30 anos no mercado, a Montreal é uma das principais empresas de desenvolvimento e integração de soluções de tecnologia da informação (TI) do país. Desde 1998 implementa soluções biométricas e detém um dos maiores cadastros de biométricos da América Latina, com 19 milhões de registros.
Entre suas linhas de negócio, oferece aplicações nos segmentos de fábrica de software – com certificação CMM Nivel 5, contact center, print center, presta serviços de cloud, com hospedagem em data center próprio, e pode atuar como outsourcing de TI, assumindo as operações e gerando mais valor aos negócios dos clientes.
A Montreal conta hoje com mais de cinco mil colaboradores em suas dez unidades no Brasil e mantém projetos em 22 estados do país e regiões da América Latina. Com capital 100% nacional, a empresa anunciou uma receita bruta de R$ 430 milhões e um lucro líquido de R$ 13 milhões em 2017. A empresa investe em inovação, pesquisas e parcerias com organizações na área de TI no mundo.