Muitas organizações têm realizado criteriosas avaliações a respeito de seu desempenho socioambiental. A usina de grande porte Jalles Machado, que tem no seu nicho de mercado o segmento sucroalcooleiro e está situada no Centro-Oeste do Brasil, passou por análise sobre as práticas de gestão socioambiental, em pesquisa realizada por professores da FGV.  Trata-se de uma sociedade anônima de capital fechado, localizada no estado de Goiás, no município de Goianésia, na Região do Vale do São Patrício. A avaliação teve como foco os indicadores da certificação Bonsucro – EU. Tratou-se de pesquisa descritiva, exploratória, qualitativa, cujos dados coletados in loco foram ancorados em entrevista a gestores, análise documental e observação direta. Os resultados apontam que a empresa atende aos critérios adicionais e obrigatórios para o cumprimento das Diretivas da EU para Energias Renováveis (2009/28/CE) e sobre Qualidade dos Combustíveis (PRINCÍPIO 2009/30/EC), porém não apta a receber a certificação.

USINA JALLES MACHADO

Fábio Viana de Oliveira – profº FGV

Luiz Roberto Calado – profº FGV

INTRODUÇÃO

Atualmente, vem aumentando a participação das empresas em atividades socioambientais, colaborando não apenas com a produção de bens e serviços, mas também com o bem-estar social, mediante a preocupação com a valorização do trabalhador, do meio ambiente e da cultura; elementos que contribuem para o sucesso mercadológico.

Para o fato de que “[…] a preocupação com a responsabilidade social tornou-se um diferencial fundamental para tornar as organizações mais produtivas e garantir o respeito do público, e, enfim, sua própria viabilidade”, Veloso (2005, p. 8). Desse modo, as empresas buscam vincular sua imagem à noção de responsabilidade social, assumindo uma nova postura como empresa cidadã.

Vale ressaltar a importância das práticas socioambientais no que tange à responsabilidade social e ambiental das empresas, como critérios e ações sustentáveis nas estratégias de negócios. Diante de tais fatos, julga-se necessário aprofundar conhecimentos acerca do presente tema. Assim, buscou-se alicerçar o estudo a uma empresa que tem como nicho de mercado o segmento sucroalcooleiro e está situada no Centro-Oeste do Brasil. Trata-se de uma sociedade anônima de capital fechado, localizada no estado de Goiás. De tal modo, buscou-se obter as informações em relação ao desempenho e preservação ambiental, em que se destaca a responsabilidade socioambiental.

REFERENCIAL TEÓRICO

Compreende-se que a Responsabilidade Social Empresarial (RSE), tão discutida na contemporaneidade, é fator de competitividade para os negócios. No passado, o que identificava uma empresa competitiva era, basicamente, o preço de seus produtos. Posteriormente, “a onda” da qualidade assumiu a centralidade de vetor da produtividade, porém focada nos produtos e serviços. Atualmente, espera-se que ela estabeleça boas relações com seus stakeholders.

Na atual conjuntura social, toma vulto a discussão acerca da participação das empresas em atividades que levam em conta a dimensão socioambiental na gestão empresarial. Afinal, as organizações não apenas produzem bens e serviços, mas também o bem-estar social, mediante a preocupação com a valorização do colaborador, do meio ambiente e da cultura, pois que são elementos que contribuem para o sucesso mercadológico.

De tal modo, o desenvolvimento sustentável (DS) abarca a equidade social e o uso dos recursos naturais racionalmente e possui uma vertente extremamente relevante: a questão do desenvolvimento econômico. Exigindo uma responsabilidade comum que induz a um processo de mudança no qual a exploração de recursos materiais, os investimentos financeiros e as rotas do desenvolvimento tecnológico deverão adquirir sentidos harmoniosos. Isso significa que, por meio desse novo modelo (DS), o crescimento econômico seja compatível e ao mesmo tempo interdependente e necessário.

Esse posicionamento teve suas bases assentadas com a criação do conceito de desenvolvimento sustentável (DS) pelo World Conservation Union – WCU, através do World Conservation Strategy, na década de 1980, cujo propósito era o meio ambiente e sua relação social, afirmaram Mello Neto e Froes (2010). Assim compreendido: “Desenvolvimento sustentável é um modelo econômico, político, social, cultural, ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades” (Catalisa, 2003, p. 59).

Cabe salientar que, entre os impactos ambientais decorrentes das atividades econômicas desenvolvidas numa sociedade, a geração de resíduos sólidos está fortemente presente, em maior ou menor escala, na maior parte das situações. Especialmente na atividade industrial, se constitui uma medida de ineficiência ou de desperdício no processo produtivo; isso porque um resíduo é gerado quando uma matéria-prima ou um insumo utilizado na produção não se converteu em produto final na atividade produtiva de uma organização ou quando sua geração é inerente a esse processo.

De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos: Diagnóstico dos Resíduos Urbanos, Agrosilvopastoris e a Questão dos Catadores (2012):

Se todos os resíduos da indústria da cana no Brasil fossem utilizados para a geração de energia, a potência instalada seria de 16.464 MW/ano, potencial que seria superior à usina de Itaipu. O setor já é considerado autossuficiente em termos energéticos, atendendo a mais de 98% da sua própria demanda de energia. Existe também um potencial para a geração de excedentes que ainda é muito pouco utilizado (IPEA, 2012).

Lembrando que em termos estratégicos a redução de custos significa gerar diferencial competitivo para a empresa; assim sendo, as práticas de controle de poluição podem tornar-se elementos de diferenciação devido à redução nos custos de produção. Outra forma de diferenciação ocorre quando os clientes estiverem dispostos a selecionar produtos ambientalmente saudáveis ou produzidos por meio de processos mais limpos, afirmou Souza (2006).

Considera-se que a destinação dos resíduos sólidos, por meio da gestão eficaz, permite que os materiais recicláveis que possam ter valor comercial sejam vendidos nos mercados específicos de acordo com cada tipo de material. De modo que o resultado financeiro da operação, medido pela diferença entre a receita gerada pela venda dos materiais e a despesa com movimentação e destinação dos mesmos, representa uma fonte de geração de receita muitas vezes bastante significativa para as empresas, acrescentou Stephanou (2013).

Na contemporaneidade, no Brasil é verificado que a atividade sucroalcooleira é uma das principais atividades da agricultura, e essa atividade é detentora de enorme potencial inovador e de retorno na esfera econômica, social e ambiental. Como consequência desse novo valor competitivo, observa-se a união entre a responsabilidade social e a gestão ambiental de maneira explícita e a questão econômica implícita contribuindo para a constituição de uma estratégia sustentável que, gradativamente, está sendo incorporada no setor. Por meio de um enfoque sistêmico, as usinas em todo o país podem aumentar o potencial produtivo, operando no sentido de que seus resíduos possam ser transformados na geração de novas energias e concomitantemente buscando equilíbrio ambiental. Somente em Goiás há 15 usinas em funcionamento e outras mais em fase de implantação.

Embora sejam inúmeros os aspectos positivos do setor, verifica-se que em Goiás o grande número de usinas em funcionamento e outras em fase de implantação têm provocado diversas discussões, e os temas mais recorrentes estão relacionados com a questão ambiental e social. O bioma Cerrado, particularmente no território de Goiás mais intensivamente, a partir do ano de 2007, tem passado por expressiva expansão das áreas de monocultura da cana-de-açúcar. Avaliações das áreas ocupadas têm mostrado que as mudanças de uso de solo são decorrentes de substituição de áreas de cultivo tradicionais de grãos e de pastagens. Sobretudo, a região Sul Goiano e suas microrregiões Meia Ponte e Quirinópolis, como asseveram Castro et all. (2010). O motivo do deslocamento da produção está relacionado com a demanda internacional por etanol em resposta à busca por novas fontes de energia renováveis e mais baratas. O Brasil nesse contexto é o maior produtor mundial de etanol a partir da cana-de-açúcar, devido a uma recente expansão canavieira. E o estado de Goiás apresenta alguns fatores importantes como: área favorável ao seu cultivo, apresenta características geoambientais, disponibilidade de infraestrutura existente para as agroindústrias sucroalcooleiras e terras mais baratas, apontaram Abdala e Ribeiro (2011).

Os resultados demonstrados pelo SIFAEG (2015) revelam que no setor sucroenergético em Goiás, na produção de Etanol Anidro entre os anos de 2000/2001 a 2015/2015, houve um crescimento na produção de 12,7%, em igual comparação ao que se refere à produção de Etanol Hidratado, o qual obteve um aumento de produtividade de 5,6%, refletindo um acrescimento total de Etanol em Goiás de 7,4% no mesmo período.

Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2015) – SAPCANA, entre os períodos de 01/02/2015 a 16/07/2015 foi apontada uma produção total de cana (t) em Goiás de 29.439.217, tendo o mesmo parâmetro a produção de açúcar (t) de 667.590. No que se refere à produção de Etanol Anidro (m³) o aumento foi de 358.442, Etanol Hidratado (m³) de 1.340.693, obtendo a produção total de Etanol (m³) de 1.699.135 no mesmo período de referência.

Considera-se que, pela expressividade de produção sucroalcooleira no estado, sobretudo, na microrregião Meia Ponte, é imperioso analisar as práticas socioambientais de uma usina de grande porte. Assim, e prosseguindo no sentido de responder às demais formulações, buscar-se-á alinhar as observações, as ações voltadas na perspectiva sustentável, entendendo quais são aquelas que poderão ser mantidas por longo período, e/ou por tempo indeterminado. E que essa pode ser constatada através de ações em três dimensões principais: econômica, social e ambiental, cuja denominação é Triple Botton Line, modelo de sustentabilidade socioambiental, conhecido como tripé da sustentabilidade, como denominou John Elkington (1998).

Tripé que busca equilíbrio entre prosperidade econômica, qualidade ambiental e justiça social baseada na certificação da Norma Bonsucro e Diretiva 28/2009/CE voltada especificamente para o setor sucroalcooleiro.

METODOLOGIA

A opção foi pela estratégia do estudo de caso. Houve a realização da análise das práticas de gestão socioambiental na Jalles Machado, localizada no município de Goianésia-GO.

A pesquisa teve os seguintes propósitos: exploratório – informações gerais a respeito do tema; descritivo – registro de fatos relacionados à realidade; e explicativa – análise e interpretação dos aspectos que influenciam no fenômeno (informação verbal).

Os dados foram coletados por meio da pesquisa documental – consulta no departamento Sistema de Gestão Integrada (SGI) da empresa, bem como mediante a realização de entrevista na modalidade não estruturada com gestores e colaboradores da empresa, objeto da pesquisa.

A empresa pesquisada tem no seu nicho de mercado o segmento sucroalcooleiro e está situada no Centro-Oeste do Brasil. Trata-se de uma sociedade anônima de capital fechado, localizada no estado de Goiás. A empresa Jalles Machado S/A, objeto deste estudo, cuja razão social é também Jalles Machado S/A está localizada no município de Goianésia, na Região do Vale do São Patrício. Geograficamente essa região está a 200 km da capital de Goiás e seu endereço é a Rodovia GO 080, Km 75,1 – Fazenda São Pedro S/N – Zona Rural, sendo constituída de 22 municípios, envolvendo uma área de 35.978,30 km. (Jalles Machado S/A, 2015). Atualmente a empresa ocupa uma área de 41 hectares, produzindo cana-de-açúcar tradicional e orgânica.

Os instrumentos utilizados formaram-se banco de dados extraídos de artigos científicos, livros, revistas e fundamentalmente informações na própria empresa. O período de pesquisas abrangeu os meses de setembro a dezembro de 2014. Contudo, de forma substancial destacam-se os Indicadores da Norma Bonsucro (2011) e Diretiva 28/2009/CE, e concomitantemente a observação direta, o questionário aplicado no setor de Gerência de Sustentabilidade e também gerente da SGI da Jalles Machado. Fundamentalmente, os diversos documentos que foram disponibilizados.

No que tange à Norma Bonsucro (2011), está baseada em cinco princípios cujos significados buscam contemplar a sociedade, o meio ambiente e as organizações. Essa norma apresenta um verificador e a medida padrão exigível para obtenção da certificação. O questionário foi direcionado ao setor de gestão integrada e agricultura, visando depreender a visão dos mesmos frente às práticas socioambientais empreendidas pela empresa, no intuito de responder os objetivos propostos, conforme segue:

Tabela 1: Setor de aplicação: Gestão Integrada

Fonte: Oliveira (2015).

 

Os procedimentos realizados na aplicação do questionário foram realizados diretamente com o responsável pelo SGI que respondeu todo o questionário, cujas informações são oriundas dos gestores e coordenadores do setor de agricultura da empresa como proposto pela Norma Bonsucro.

Assim sendo, as respostas do questionário é o resultado do conjunto de informações de uma população de 17 gestores e 153 coordenadores da Indústria, Agrícola e Administração. Sendo aplicada uma amostragem de 20 questionários em ambos os setores, e, destes, houve a devolução de 15 respondentes.

RESULTADOS

Para melhor compreensão do assunto, o foco deste item é compreender os sistemas de gestão, práticas e estratégias socioambientais da empresa Jalles Machado S/A, do setor sucroalcooleiro, localizada no município de Goianésia-Go, por meio dos resultados encontrados. A seguir evidenciam-se os dados no intuito de esboçar a percepção da empresa por meio da pesquisa realizada em campo, onde se expõe uma abordagem de seus procedimentos.

Tabela 2: Informação da empresa

Fonte: Norma Bonsucro (2015).

 

Segundo os gestores, as práticas socioambientais foram “incorporadas no ano de 1996, com os primeiros conceitos para a sustentabilidade corporativa, já com a implantação de alguns programas e a elaboração do planejamento estratégico incorporando este conceito”. Apontando a importância desse planejamento para a empresa, relatando que foi fundamental a inserção de práticas de “sustentabilidade do negócio, pois já havia informações sobre a globalização, e também pelos cenários descritos para os próximos 10 anos para o setor sucroalcooleiro na época”. Informando que “[…] pela cultura dos diretores em gerar renda e emprego para o município, contribuindo, assim, com a responsabilidade social e também por implantar os conceitos de desenvolvimento ambientalmente correto, fechando assim o tripé da sustentabilidade corporativa”.

A Jalles Machado S/A busca fabricar produtos a partir da cana, para satisfazer os clientes, investindo em qualidade e possuindo certificações que permitem atender os mercados exigentes do mundo. A empresa preza em ter uma produção sustentável, que possa contribuir com a preservação do meio ambiente e com as comunidades em que atua.

A empresa visa equilibrar o compromisso entre o meio ambiente e o desenvolvimento de seus produtos; assim, refere-se que, “desde 1994, tem uma comissão formada por colaboradores de diversos setores e níveis hierárquicos, responsáveis por levantar os impactos ambientais envolvidos nos processos da empresa”. De tal modo, tem como “objetivo propor medidas de cunho educacional normativas ou de projetos de adequação, buscando a eliminação ou neutralização dos impactos negativos ao meio ambiente”.

Dessa forma a empresa utiliza-se de ações ambientais desenvolvidas pela comissão interna de meio ambiente – CIMA, sendo:

Tabela 3: Ações ambientais – CIMA

Fonte: Jalles Machado S/A (2015).

Em relação à gestão ambiental, a empresa prioriza alguns projetos no intuito de proteger o meio ambiente, conforme relata:

Tabela 4: Gestão ambiental

Fonte: Jalles Machado S/A (2015).

Os gestores delineiam outras ações realizadas com a finalidade de proteger o meio ambiente, tais como os projetos ambientais:

Tabela 5: Projetos ambientais

Fonte: Jalles Machado S/A (2015).

 

Diante de tais fatos, entende-se que a empresa utiliza as práticas socioambientais em suas ações gestionárias.

Quanto à certificação das Normas Bonsucro – EU o respondente afirmou que a usina Jalles Machado não utiliza essa certificação, o que invalidaria a metodologia aplicada nesse estudo; contudo, a aplicação dos indicadores possibilitou configurar a eficácia de sua gestão socioambiental, enquanto sendo a formulação fundamental dessa discussão.

Já no que tange à responsabilidade social, refere-se que várias ações são realizadas, para os funcionários e comunidade, sendo:

Tabela 6: Responsabilidade social

Fonte: Jalles Machado S/A (2015)

Diante de tais projetos, percebe-se que a empresa busca estar em interação com a responsabilidade socioambiental. Prosseguindo no sentido de evidenciar dados específicos da empresa, buscaram-se dados que alicerçam os resultados, revelando as informações a seguir:

Tabela 7: Moagem

Fonte: Norma Bonsucro (2015).

 

Quanto ao programa de requalificação de mão de obra e tipo de colheita, aponta-se que a maioria da colheita é realizada de forma mecânica. Conforme segue:

Tabela 8: Programa de requalificação da mão de obra no plantio e corte de cana

MANUAL: A operação é realizada com trabalhadores rurais que praticam ginástica laboral todos os dias antes do início das atividades. Todos os colaboradores utilizam equipamentos de proteção individual (EPI’s), devidamente adequados para realizar o corte de cana queimada, sem afetar a produtividade. O carregamento e transporte da cana queimada é terceirizado, sendo o acompanhamento de qualidade realizado por funcionários da Jalles Machado (Jalles Machado, 2015).

MECÂNICA: Utilizam-se colhedoras de pneu e tratores com transbordo que utilizam pneus de alta flutuação, visando reduzir os efeitos da compactação do solo. (Veja as vantagens ambientais desse tipo de colheita.) O transporte é realizado com 100% de frota própria, com caminhões que trabalham no sistema de bate e volta (Jalles Machado, 2015).

No que tangue às certificações, prêmios ou reconhecimentos, destaca-se que a “Jalles é referência no setor sucroenergético nacional aliando produtos de alta qualidade, ações socioambientais e foco no desenvolvimento sustentável”.

Tabela 9: Certificações, prêmios ou reconhecimentos que usina possui

Fonte: Norma Bonsucro (2015).

Os resultados revelados em relação ao faturamento, vendas, rentabilidade e endividamento demonstraram satisfatórios para a empresa, levando em consideração o crescimento e decréscimo dos índices a cada ano. No que se refere ao Princípio 1 – Cumprir a Lei, é um fator primordial para a empresa.

Tabela 10: Princípio 1 – Cumprir a Lei

Fonte: Norma Bonsucro (2015).

A usina cumpre o Princípio 1, por serem respeitadas todas as leis e convenções internacionais que buscam a preservação do meio ambiente e biodiversidade, com ações baseadas no que discorre e emana a legislação ambiental. As terras cultivadas pela usina, além de próprias, conta com arrendamento, todas legitimamente reguladas de acordo com leis nacionais, não consta nenhum título contestado irregularmente sobre a posse das terras usadas pela usina. Ao que se evidencia quanto a respeitar os direitos humanos e de trabalho, apontam:

Tabela 11: Princípio 2 – Respeitar os Direitos Humanos e de Trabalho

Fonte: Norma Bonsucro (2015).

 

De acordo com as respostas, os trabalhadores da empresa apresentam idade mínima de 18 anos, havendo projetos para aprendizes menores de 16 anos.

Dos indicadores do Princípio 2, o item frequência de acidentes ocorridos por cada milhão de horas trabalhadas, entre 15 e 20 ocorrências no período, não atende ao indicador da norma. A justificativa é que a maioria dos casos é decorrente do trabalho manual na agricultura. Como estratégia para minimizar os riscos de acidentes ocupacionais, os trabalhadores participam de cursos e treinamentos básicos concernentes à saúde e segurança no trabalho. São monitorados e controlados acerca do uso dos equipamentos de proteção individual.

Os demais itens desse princípio foram atendidos satisfatoriamente. Quanto a Princípio 3, em gerenciar eficiência dos insumos, da produção e do processamento para aumentar a sustentabilidades, os resultados apontam que:

Tabela 12: Princípio 3 – Gerenciar eficiência dos insumos, da produção e do processamento para aumentar a sustentabilidade

Fonte: Norma Bonsucro (2015).

 

Foi possível observar que quanto ao gerenciamento dos insumos, desde a produção ao processamento, o desempenho está dentro do padrão exigido pela norma.

Quanto ao consumo de cana na produção de etanol, a usina consumiu 11,36 quilos de cana verde, atendendo à boa prática de produção. O processamento e moagem apresentaram desempenho aceitável pela norma, sendo assim, é favorável sua eficiência industrial. Os resultados alcançados pelas áreas de produção agrícola são consequência do desenvolvimento tecnológico e capacitação dos empregados.

No que concerne ao monitoramento das emissões de gases, por não haver informações, considerou-se neste estudo que não atendeu os indicadores.

A empresa Jalles Machado S/A apontou resultados da safra 2014/15 em cana processada de 2.702.636 toneladas, sendo em etanol de 92.781.392 litros, açúcar 3.441.119 sacas, leveduras 1.566 toneladas e energia de 14.452 megawatts, (Jalles Machado, 2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, fez-se uma incursão na compreensão dos sistemas de gestão, práticas e estratégias socioambientais da empresa no setor sucroalcooleiro, Jalles Machado, localizada no município de Goianésia-Go, de acordo com os princípios da Norma Bonsucro – EU.

Diante dos resultados revelados, compreende-se que, no quesito “Respeitar os Direitos Humanos e de Trabalho”, a empresa atende às normas legais, bem como ao que se refere à saúde, segurança e treinamento, atendendo desse modo ao Princípio 2. A Jalles Machado comercializa créditos de carbono, bem como a certificação do Bureau Veritas Quality Internacional (BVQI), o qual credencia a operar no mercado, criado a partir da assinatura do Protocolo de Kyoto. Os resultados revelados conforme o Princípio 3, quanto ao gerenciamento eficiente dos insumos, da produção e do processamento para aumentar a sustentabilidade, demonstram que há produtividade de cana.

Quanto aos princípios 4, 5, e 6, os resultados revelam que atende às normas legais quanto a gerenciar ativamente a biodiversidade e serviços do ecossistema, bem como medidas de proteção sobre os impactos no processamento e na agricultura.

Quanto ao quesito Cumprir a Lei, se as normas nacionais, convenções internacionais, bem como a regulação que rege a posse e o direito de uso de terra e práticas agrícolas e transporte, são realizadas, nessa perspectiva, a referida empresa cumpre parcialmente, mas não os 80% exigidos.

Assim sendo, é possível afirmar que, diante da apresentação dos resultados, a empresa sucroalcooleira do estado de Goiás, Jalles Machado, pratica satisfatoriamente a gestão socioambiental, atendendo ao Tripé da Sustentabilidade, embora, ainda não tenha adquirido a certificação Norma Bonsucro – EU. Significa que, para os padrões de atendimento vigentes no país, os resultados foram satisfatórios; todavia, para atendimento de requisitos internacionais, ou seja, enquanto oportunidade de expansão dos negócios para a empresa, há de considerar ajustes e adequação às normas internacionais.

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