Iniciativa da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net) nasceu em 2003 com o objetivo de fomentar um setor ainda incipiente no Brasil

Em 2003, as vendas pela internet no Brasil ainda engatinhavam quando a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net) criou o Ciclo MPE, um curso de capacitação cujo objetivo principal era mostrar aos empreendedores brasileiros que havia uma oportunidade promissora na Web para aqueles que quisessem investir no varejo on-line. Na época, o e-commerce ainda era incipiente no Brasil, com um consumidor inseguro e lojas fazendo negócios de maneira amadora.

A entidade, criada dois anos antes com a finalidade de fomentar o setor, promover a segurança nas transações eletrônicas e ajudar na formulação de políticas públicas para o aprimoramento de marcos regulatórios, reuniu seus associados – um grupo multissetorial composto por mais de cem empresas, entre as quais Microsoft, Correios, Sebrae e Certisign – para encontrar um meio de estimular a criação de lojas em todo o país que seguissem as boas práticas do setor e que pudessem crescer de maneira sustentável.

Mas como colocar a ideia em prática? A solução veio na forma de um ciclo de seminários itinerante voltado para o micro, pequeno e médio empreendedor. Uma equipe da câmara-e.net formada por especialistas em planejamento, infraestrutura e logística percorreria várias cidades do país ao longo do ano, levando conhecimento básico e gratuito para os pequenos
empresários.

“A premissa era mostrar o que era o comércio eletrônico, como funcionava e quais eram as ferramentas para colocar uma loja em operação”, conta Fernando Ricci, coordenador do Ciclo MPE e consultor do Comitê de MPEs da camara-e.net.

Para viabilizar o projeto, os associados decidiram correr atrás de patrocínio. Os primeiros ciclos foram bancados pelos Correios, com o apoio de associações e entidades locais e parceria de grandes empresas do setor. Para a estatal, era fundamental que os novos empreendedores do comércio eletrônico entendessem como funciona a operação logística em um país de proporções continentais, altamente dependente de malha rodoviária. E mais: quais os gastos envolvidos nessa operação. E o Ciclo era uma ótima oportunidade para fazer essa conscientização.

Os custos de entrega respondem, em alguns casos, por 70% do custo total da operação logística no e-commerce. Esse fator representa uma das principais barreiras no crescimento do comércio eletrônico, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, onde, não raro, há casos em que o valor do frete supera o preço do produto.

“Uma loja on-line pode falir em menos de um ano se não souber todas as variáveis donegócio ”, alerta Jairo Lobo, coordenador do Comitê de MPEs da camara-e.net e um dos palestrantes do Ciclo MPE. E por variáveis entenda-se: falta de planejamento prévio; desconhecimento dos custos envolvidos na operação; escolha equivocada da infraestrutura tecnológica; uso de meios de pagamentos inseguros; mau gerenciamento de estoque; falta de profissionalização da equipe; e competição acirrada. Consultor do Sebrae, Lobo é o responsável pelo seminário “Planejando uma loja virtual de sucesso”, que aponta aos futuros empreendedores a importância do planejamento e dessas variáveis para o novo negócio.

Segundo a 3ª Pesquisa Nacional do Varejo Online 2016, do Sebrae, a falta de planejamento/conhecimento causou 27% da mortalidade das lojas virtuais no Brasil, em 2016.

Dois anos antes, o tempo médio de vida de uma loja virtual era de apenas três meses. Quando o Ciclo foi criado, em 2003, era comum entrar numa loja num mês e no seguinte o site já estar fora do ar. Atualmente, o tempo médio de vida de uma loja online é de cinco anos. E difusão de conhecimento tem sido essencial para diminuir a mortalidade no comércio eletrônico.

ESTRUTURAÇÃO EM PILARES

O Ciclo MPE foi estruturado com seminários sobre temas relacionados aos três pilares do comércio eletrônico: infraestrutura (planejamento, hospedagem, requisitos técnicos), operação (logística na cadeia de suprimentos, transações seguras nas operações de venda, possibilidades de financiamento e meios de pagamento seguros disponíveis) e marketing (publicidade on-line, SEO e marketing digital, mecanismos de busca).

 

Apresentação do Ciclo MPE 2018 em Belo Horizonte

Palestra sobre financiamento ministrada pelo BNDES no Ciclo MPE 2018 de Goiânia

“Os temas são apresentados de forma a fazer o participante percorrer todas as etapas de abertura e manutenção de uma loja on-line”, explica Ricci. “Queremos, com isso, que ele aprenda a identificar falhas e planejamento e manutenção a tempo de corrigi-las”.

A estruturação em pilares não mudou nos 16 anos que o Ciclo está na estrada. Os organizadores vão alterando alguns temas das palestras e incluindo seminários especiais conforme a cidade e a ocasião. “Com o passar dos anos e o aumento da procura, vimos que as pessoas queriam saber como montar uma loja virtual e fizemos alguns ajustes nas palestras para atender aos anseios dos participantes”, diz Ricci.

Palestra sobre financiamento ministrada pelo BNDES no Ciclo MPE 2018 de Goiânia

Apresentação do Ciclo MPE 2018 em Belo Horizonte

No encerramento da etapa de 2018, por exemplo, foi incluída uma palestra especial sobre acessibilidade Web. O objetivo era mostrar aos participantes que fazer um site inclusivo é, além de uma exigência legal, uma excelente oportunidade de negócios. Em outra ocasião houve palestra do Facebook sobre vendas pelas redes sociais.

OFICINAS PRÁTICAS

O grande ganho para os participantes, no entanto, se deu a partir de 2017, quando o Ciclo resolveu montar uma oficina prática no dia seguinte aos seminários, em que mostra o passo a passo de uma loja virtual usando uma das várias plataformas de e-commerce disponíveis no mercado. A oficina dura quatro horas e é sucesso entre os futuros empresários.

Este ano, a oficina ganhou um upgrade. Durante os seminários, participantes que já têm CNPJ e se interessarem poderão abrir sua loja durante a oficina. E sair de lá prontos para vender.

O incentivo ao empreendedorismo chamou a atenção de empresas interessadas em associar sua marca à iniciativa, hoje referência em capacitação para empresários do setor. BNDES, Caixa Econômica Federal, Microsoft, Sebrae, UOL, Mercado Livre, VTex, entre outras, apoiaram ou apoiam o Ciclo, de alguma maneira, seja por meio de patrocínio financeiro, seja por meio de apoio logístico, seja por meio do envio de palestrantes para as localidades mais distantes.

“Como os seminários são gratuitos e a camara-e.net é uma entidade sem fins lucrativos, o apoio ou o patrocínio do governo federal e da iniciativa privada é fundamental para o sucesso da iniciativa”, explica Ricci. “Sem esse apoio, não teríamos
conseguido capacitar empresários em mais de 300 cidades das cinco regiões do país nesses 16 anos”.

Cada uma das 20 etapas anuais do Ciclo recebe, em média, 150 participantes (o número varia de acordo com o tamanho do espaço onde os seminários acontecem).

Por ano, o projeto capacita cerca de 2.000 empreendedores. Em 16 anos, quase 75 mil pessoas acompanharam os seminários. Desse total, a camara-e.net estima que ao menos 25% abriram e operam uma loja virtual nos mais variados segmentos. Um case de sucesso que saiu dos bancos do Ciclo foi o de uma loja de artigos esportivos. Em 2002, a Netshoes decidiu deixar o varejo físico e operar somente pela internet, e seus sócios buscaram nos seminários do ciclo o conhecimento básico para transformar aquela que é considerada a mais bem-sucedida loja virtual do país.

PERFIL DOS PARTICIPANTES DO CICLO

SEXO

Homens – 54,3%
Mulheres – 45,69%

IDADE

Entre 31 e 40 anos – 28,4%
Entre 41 e 50 anos – 27,8%
Entre 21 e 30 anos – 22,4%
Entre 51 e 60 anos – 12,6%

60% dos participantes têm interesse em abrir uma loja virtual, conhecer mais
sobre e-commerce e/ou expandir seus negócios.

74% dos participantes não possuem loja virtual

73% pretendem abrir uma loja virtual em até um ano

37,15% pretendem vão atuar na categoria de Moda & Acessórios

Fonte dos dados: Ciclo MPE /camara-e.net

Crédito das fotos: Divulgação/camara-e.net